terça-feira, 14 de julho de 2020

Postergo

Existem várias coisas que eu evito; uma delas é terminar todas as coisas que tenho que fazer, por poucas que sejam. Seria um medo de não ter mais nada dependendo da minha atenção?
Eu evito a extração daquilo que me perturba noite após dia, essa beterraba gigante atravancada em minhas artérias. Eu sei como tirar ela dali, sei os meios: palavras. Mas evito. Sei que hei de puxar um ramo, um fio, um galho e desencadear uma puxação que vai parar numa raiz inevitavelmente dolorosa - e na hora haverá uma breve sensação de arrependimento que quase poderia ter sido evitado, como enfiar a unha e fazer o nariz sangrar na caça por aquele tatu lá de cima da chaminé.
O primeiro passo seria começar, depois continuar até não precisar mais parar; mas evito. Em vez disso, cometo pequenas escapadelas de poucos parágrafos, como uma panela de pressão assoviando: apenas o suficiente para não explodir. Ei de reler-me sóbrio essas linhas e dar conta da falta de vergonha na cara, que agora não sinto, sinto muito.
Quem dera eu possa me convencer no futuro, visto que não posso me convencer no agora.

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