sexta-feira, 3 de julho de 2020

All alone

Vou pro terraço. Tenho um ou dois cigarros ainda. As luzes noturnas da cidade me davam as boas vindas, paisagem que sempre gostei.
Ainda tenho dez minutos eu acho.
Ouço atrás de mim alguém caminhando. Uma mão pousa em meu ombro. Outra mão aparece com um café.
Era quase como um abraço.
Bota um casaco! deve tá dois graus aqui fora...
A Aline tava com umas olheiras, parecia doente.
Depois de me alcançar o café ficou do meu lado me olhando.
Quando ela pegou no meu braço eu percebi que estava só de manga curta. E que todo meu corpo doía.
Eu não sentia mais meus pés, esqueci de colocar uma meia extra.
Eu não sentia o quão exausta eu estava.
Mas, provavelmente eu não era a única, estava todo mundo trabalhando até o limite.
Eu já não mais sabia por que, nem antes, nem agora. Não havia perspectiva, apenas um bando de burros, ignorantes, insistindo em uma birra infinita.
Apenas um pensamento coletivo: Que morram.
De repente senti quase como um corte no rosto. Uma lágrima fria e solitária despencando. A regra seguia a mesma, apenas uma lágrima era permitida. Não mais. Nunca mais.
Acho que eu estava chegando no meu limite também.
Aline se aproximou um pouco mais. Quase sem que eu perceba, ela me envolve com o meu casaco que havia esquecido lá embaixo.
Olhei para ela de relance, estava prestes a chorar.
Estávamos trabalhando tanto. Nós pelos outros, mas ninguém por nós.
Puxei ela pra perto em um abraço apertado.
Violei minha própria regra.

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