terça-feira, 5 de agosto de 2014

Papo de Surdo e Mudo

Diziam, que todo advento necessita uma proclamação.
Mas o advento daquele que não veio é um simples piscar de olhos, uma simples constatação. Graças ao Diabo. Isso, se relaxado e bem servido, de uma grande fatia do bolo místico que rege a consciência.
Do contrário, graças a Deus.
Afinal, graças a Deus, não tenho tempo para fazer o que eu gosto, ou o que eu quero e quando quero.
É graças a Ele, que não chego a conclusão nenhuma em função do pouco tempo que tenho para dedicar-me a mim mesmo, ou aos que gosto, naturalmente nem Ele nem o Outro entram nesse jogo astuto. Porque? Acho que porque não cabe. O que é parte não cabe ao todo.

Chuva.
E era uma chuva boa, mas não para limpar a imundície das ruas. Márcia dizia que quando se ficava em silêncio, havia um choque. Era um grande choque, as pessoas ficam chocadas com o que vêem quando realmente vêem. Só parecia um esgoto aberto na verdade, uma cegueira daqueles que podem ver.

Chuva.

Quinta-feira e um homem velho, bem sucedido, mas não na arte do bem estar, nem na arte de falar.

Ela tinha perguntado se o moço que o acompanhava era seu filho. Não. Não que ela já não soubesse a resposta, mas dizia respeito aos bons costumes e também a ser uma boa moça para  com os pacientes.
O filho dele, provavelmente estaria estudando medicina ou direito.
Media a pressão do senhor enquanto ele comentava azedo sobre estar chovendo.
Ele pedia sem ao menos falar, uma injeção para a alma. Pedia um remédio para a solidão. Trocaria suas roupas caras por um caro carinho.
E era caro, porque nesse caso ela não saberia dar. Poderia trocar por algo que ela quisesse, não sendo mais um carinho, afinal o que é dado não tem valor.

Estava quase suando. Pela janela embaçada, o movimento e o calor do lado de fora indicavam o humor da cidade.
Choveu mas não esfriou.

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