terça-feira, 6 de maio de 2014

Lágrima de Júlia

A Júlia não era nenhuma dama fantasia, que andava em nuvens provocando sonhos lúcidos nos jovens desavisados em topiques ou parques... Mas, não posso dizer que se tratasse de uma garota ordinária, de vida comum, que adorasse comprar roupas ou ir no salão de beleza.
Uma das poucas enfermeiras que conheci, que se recusava a consultar, ou mesmo tomar remédios. Júlia estava certa nisso. Estava certa até mesmo em pintar o cabelo de rosa. Não que fosse feio na cor natural.

"O que eram as doenças?"

Ela sempre perguntava num azedume.
Aliás, perguntava tudo, perguntava os por quê's. Questionava e insistia, era chata demais.
Ela era brilhante.
Havia algo, no entanto, havia algo escondido dentro daquela mente.
Talvez a razão pela qual ela não consultava psicólogos ou psiquiatras, nunca sei qual é qual...
Pelo menos pra mim ela nunca falou. Acho que nunca vai falar.
Se ela estivesse no meu lugar, teria dito: "é impossível saber exatamente o que se passa na cabeça de outra pessoa, logo, não há preocupação".

Era simples assim.

Em diversos momentos, ela já foi surpreendida com os olhos repletos de lágrimas, seja numa visita inesperada, em seu apartamento em Porto Alegre, ou mesmo, perto do xerox no Centro 1 da Unisinos, naqueles lugares escuros de noite. Sempre na mesma posição, escorada na parede com um cigarro entre os dedos, às vezes apagado e às vezes aceso. Uma das poucas coisas que ela fazia que podemos dizer que era 'estático'. Além de vestir sua baby look do Led Zeppelin é claro...

E é isso que me preocupa.
Por que chora uma pessoa que parece estar certa sobre muitas coisas?

2 comentários:

  1. Talvez preferisse não estar certa nem errada. Não que houvesse escolha. Qualquer opção serve para o mesmo fim, então não há o que optar.

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  2. Ela pode não saber o que os outros pensam a seu respeito...pode não saber que eles pensem que ela está certa em muitas coisas...

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