sábado, 17 de maio de 2014

As calçadas e eu

Coisas aconteceram e as percebo enquanto caminho em alguma calçada. Vejo sinais que poderiam ser interpretados de tantas formas diferentes que acabo escolhendo apenas uma: um dia inteiro aconteceu ontem, aqui.

Borboletas voam baixo, vejo um lixo sem educação jogado ao chão; um cachorro cagou aqui; um homem comeu ali e deixou o que restou da sua marmita; outro deixou o que restou da sua sorte, nas gotas de sangue arrancadas por mais uma tentativa.

Atravesso ruas para chegar em outras calçadas, sigo por elas acompanhado apenas pela história silenciosa que habita aquele ar que, ontem, alguém respirou; se paro, não volto e enquanto caminho me lembro que somos um pássaro num galho. Passo pelas esquinas e elas me soam tão cretinas: paradas ali, dizendo-me que eu vá, escolha um lugar para ir.

É, Zé, os passos que nos restam estão contados, mas não sabemos o tamanho desta conta. E um dia eu voltarei aqui pela última vez.

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