quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Três por três

Aguardavam debaixo de uma sombra forte, num dia de sol bruto, esperando um bom momento para sair embora, mundear por aí, ir para casa, repousar em paz.
O espectro do necromante estava vencido, não poderia mais toca-los. Sentiam-se leves, vivos. Esperavam esperançosos pelo saboroso momento em que chegariam de volta à aldeia, onde veriam pessoas comuns, tão inofensivas quanto eles próprios foram um dia.
Entardecido, o sol brilhava sem queimar; havia paz; as perturbações passaram. Eram, de novo, donos de suas consciências. Vencido o inimigo, iriam embora carregando o tesouro.
Contarão sobre a aventura a outros amigos, que ouvirão incrédulos. Acabarão sendo convencidos - tudo parece tão possível, olhando para seus rostos pálidos, sofridos.
Partem; chegam, bebem e brindam. Há música na taverna, há alegria vitoriosa. Endurecidos pela experiência, seus corações agora se enlevam, aliviados, empolgados. Talvez essa vida lhes seja uma boa escolha. Aventurar-se, enfrentar perigos - quem sabe?
Os velhos amigos os reconhecem, mas somente se acostumam com seu novo aspecto após terem bebido alguns canecos. Os três jovens, que estavam sumidos há dias, finalmente voltaram, mas estão tão brancos e magros, com olhares tão diferentes da antiga inocência, que é como se fossem outros. O que teriam visto de tão impressionante, se pergunta o taverneiro.
Enquanto a noite avança, o ar esfria e um vento afiado sopra pelos becos, por entre as casas. Do lado de fora, o olho furtivo do necromante espreita. Pois ele jamais veria seu fim.

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