quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Elísio

Depois da ponta aguda, da dor no peito, e da lágrima última.
'Depois', era uma definição vaga. Em realidade, inexistente.
Já não havia mais o antes, o durante e o depois.
Mas podemos nos referir como antes, o brilho intenso da transição, para uma nova pessoa, um novo propósito.

Não havia dor, tristeza ou alegria. Apenas o estado natural de absoluta paz.
Quando ela abriu os olhos, a aurora familiar e o brilho da nova esperança, inundaram seus bonitos olhos verdes. O céu estava limpo. Estava deitada em um vasto campo verde.
Parecia que há muito tempo atrás ainda sentia-se pesada, como se vestisse uma volumosa armadura, grandes fardos e uma bravura no olhar. A bravura não esfriou, mas o tempo já deixara de existir.

Sentia-se leve.
A visão lúcida e plena.
Olhou seus pés. Os movimentos eram suaves como suas vestes. Mesmo se quisesse não iria conseguir nada brusco naquela ocasião.
Apoiou as mãos no gramado alto e macio para se sentar, lembrou-se da outra vida quando fora uma criança, quando os gramados costumavam irritar um pouco a pele, isso já não mais acontecia. Não ali.
Levantou.
Até mesmo isso, vindo dela, naquele lugar parecia um gesto de bondade e de paz.

Tinha poucas lembranças da batalha do dia anterior. O que era o dia anterior, para ela, já parecia tão distante... As lembranças estavam ficando para trás, junto com o tempo. Como se tivesse acordado de um sonho. Já não era mais importante.
Só o que importava agora era o novo propósito. A nova tarefa.

Já não havia nenhuma cicatriz em seu corpo.
E nenhuma cicatriz em seu coração.

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