sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Confusão

De repente, Valdir percebeu: havia algo de estranho. Olhando a si mesmo, em sua casa, notou que a imagem refletida no vidro não o acompanhava fielmente. "Mágica ou maldição", pensou. "Talvez esteja antevendo meu próximo momento". De certa forma, não deixou de achar tal fato fascinante.
Decidiu, então, seguir aquela sua estranha versão, e adaptar-se a ela. Jogou fora uma velha tela e começou um novo auto retrato, a partir do que passou a ser a cada dia. Um amigo, tempos depois, disse que a obra se assemelhava a uma colcha de retalhos.
Essa percepção se tornou confusa, um tanto perturbadora, a medida que cada vez mais a imagem que via era distinta do que esperava. "Mágica e maldição", concluiu. Teria que se esforçar muito para acompanhar a bizarra evolução a que estava fadado; e assim o fez.
Numa quarta feira pela manhã, quando foi comprar uma camisa floreada, para acompanhar sua próxima cara, ficou aturdido no provador de roupas. A imagem que via no espelho fazia exatamente o mesmo que ele. Não uma ameaça do futuro, mas a simples réplica do presente efêmero. Apenas ele, fitando a si mesmo, num ciclo infinito. E, céus, como era feio!

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