sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Dia após

Assim era.
Era tudo mais ou menos igual. Mais do mesmo. Dia após dia.
Me pergunto se o que tornava o amor cinza era o tempo ou a cidade que não pára.
Amor. Nunca teve a ver com isso, era mais um engano.
To falando das vezes que tu te sente bem misteriosamente não. Falo do enfado. Do que é falado cotidianamente, erroneamente e fadado ao fracasso. Falo de mim mesma também, afinal os dedos apontam até onde eles acabam e sobram os alvos.
Porque a surpresa? Alguma vez foi diferente? Alguma voz fez diferente? Fez diferença?
Tive raiva do pedreiro que me assediou. Duas quadras atrás. Dois minutos apenas. Dois minutos de ódio. Há pena?
Há. Ainda que seja uma sociedade em boa parte machista. Mas não sei como era na sua cabeça, seus problemas. As angústias de viver uma vida sempre competindo com todos, problemas criados no cerne. Seria considerado um fraco se não tivesse gritado sobre a minha bunda, pernas e seios? Eu seria considerada fraca se tivesse gostado?
Eu teria muito mais medo se não ficasse tão triste.
Acho que devo parecer arrogante. Mas não tem como saber pra onde o nariz aponta quando estou distraída. Melhor arrogante do que fraca.
Oi, me dá um Dunhill preto.
Downhill, o mesmo trocadilho sem graça me vinha sempre à mente. Pensei na hora de pagar.
Que caro. E que cheiro de guarda chuva que tinha aquele boteco.
Eram quase sete.
Eu não devia estar perambulando, confabulando sobre o lixo humano.
Mas a pergunta sempre era:
Até quando?

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