terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Pobre Chico


Não havia dinheiro. Na verdade, faltava riqueza para comprar o que quer que fosse. Ouro é coisa de lenda, diria algum velho aldeão. E tem outra coisa: para que serviria? Não se come, não aquece o pelo do homem; tapar o buraco no telhado, a fim de se livar de uma goteira? Ia precisar de ouro suficiente para pagar uma casa nova, provavelmente alguém o roubaria, e pronto, lá vem a goteira novamente. Não, ouro não serve, não para nós.

“Arranja uma utilidade melhor para a tua sorte”, foi o conselho que restou ao fim de um dia de tentativas de negociação.

Pobre Chico, criador de galinha, de bicho de pé e de falsa esperança; nascido e criado para ser pobre, morrer miserável. Não tinha filho para sustentar, nem mulher para dividir a vida, nem um cusco que lhe fizesse companhia. Menos mal, passaria fome sozinho, se a situação piorasse.

Nasceu no seu galinheiro uma galinha diferente das outras poucas que ciscavam por lá. Botava ovos, como as outras, mas as gemas destes eram puro ouro. Já tinha uma porção dessas gemas guardadas, desde que descobriu este fato milagroso, por acidente, quase perdendo um dos poucos dentes que ainda tinha. Pulou de alegria, quase deu adeus ao barraco, se mudaria para a cidade, pobreza nunca mais; seria bem visto, bem quisto, bendito.

Os dias iam passando e ninguém aceitava negociar por um de seus ovos de ouro. Ninguém o levaria para a cidade, ninguém tinha um cavalo para vender a ele, um burro que fosse. Sua ascenção foi barrada pela pobreza que o cercava.

Sua expressão nestes dias era um misto de indignação e angústia, mas depois foi se aliviando, foi bastante notável num dia em que saiu para recolher lenha. Nesta mesma noite, uma fumaça cheirosa saiu da chaminé do seu fogão. Estava terminada aquela palhaçada: Chico fez uma galinhada com a maldita galinha dos ovos de ouro. E, diabos, que carne dura.

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