Não era
uma padaria ritmada pela pressa, marcada por pedidos para levar.
Não estava incrustada em rua movimentada do centro, espremida entre
prédios, nem havia um estacionamento pago por perto. Por ali, o
normal era comer no balcão, ou à alguma mesa perto da janela; pela
qual se veria um céu sem qualquer arranhão; uma rua tranquila: casas
sem cerca, pessoas caminhando sossegadas; passava um carteiro,
assoviando; um radialista de bigodes, um cão passeando sozinho.
Lugar
familiar, repetiam-se os rostos. O próprio dono atendia no balcão.
Morava numa casa grande, velha e bonita, nos fundos. Conhecia
pelo nome uma boa parte dos fregueses, os mais frequentes. Os que
pouco vinham, esforçava-se para que voltassem mais vezes. Menos um
deles.
Aquele,
esperava jamais ver novamente.
Pois, na
única padaria daquele bairro tão simpático, ali bebeu e comeu uma
alma perversa, um biltre matador de mulheres. O padeiro ouviu dizer
que ele foi preso, que foi morto, que foi para o inferno e voltou e,
embora quisesse acreditar em qualquer uma das duas primeiras
hipóteses, nenhuma lhe trazia certeza, nem conforto.
Por meses
depois dos crimes, sempre fez questão de levar até em casa as suas
funcionárias sobreviventes, escrevendo uma história que ainda deve ser melhor
contada.
Bom
sujeito, diz-se dele. Uma foto na parede da padoca denuncia que já foi
guitarrista de uma banda de roque - mas não poderia ter levado aquilo
para o resto da vida: não era para ele. E quem o conhece melhor sabe
que, apesar do gosto pelo trabalho, a padaria é apenas o seu
ganha-pão. No seu íntimo, o que ele realmente é, o que realmente
ele sabe fazer, aquilo a que ele dedica os melhores e os piores de seus momentos, é ser pintor.
=D
ResponderExcluir=D
ResponderExcluir