quarta-feira, 12 de março de 2014

A esquina e eu

A cidade é tão pequena e sofre tantas mudanças. Quanto a isso, não somos diferentes. Uma esquina por onde pouco passei no passado, plantada num lugar tão distante, repentinamente é logo ali: perto de casa. A casa e eu somos outros. Mudou a cidade, mudei eu - nós.
Aquela esquina continua lá, bem ali onde a deixei. Quanto tempo levou até que eu a reencontrasse, hoje, tão mudados nós dois? Deixei-a para trás, segui meu caminho caminhando.

Ouvi palavras e frases, vi pessoas e gestos. Uma reclamação sobre etiquetas de preços, um até logo murmurado por preguiça, um diálogo decisivo sobre o futuro das portas do automóvel: abertas ou não. Pedaços daquelas pessoas, partículas que elas atiraram ao vento, como pingos de chuva contra os quais eu jamais me chocaria caso tivesse dado aquele passo em qualquer outro lugar que fosse.

Como eu teria me visto se aquela esquina cruzasse consigo mesma dez anos atrás, dez anos passados num piscar de passos, oh questão improvável. Em verdade, ainda me vejo por lá, esperando o dia de hoje chegar, esperando à toa, vadiando como sempre, viajando em passos curtos um caminho indefinido, procurando sem achar, passando por si sem saber, como passo hoje por alguém que me viu, invisível, a não reparar que me via. Ah, Joe, que belo lugar é este por onde ando.

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