sexta-feira, 8 de março de 2013

Sabedorias de ônibus

Início da tarde do início de uma semana difícil. Caminhou até o balcão de atendimento e comprou sua passagem, marcada para as 13 horas e 30 minutos.
Entrou no ônibus quase vazio e sentou-se nos primeiros assentos. Assim como os outros passageiros que, vendo os bancos preferenciais disponíveis, ajeitaram ali seus traseiros.
Indisposta em função da gripe, desejou estar enrolada nas cobertas, atirada em algum quanto qualquer, lendo algo qualquer, enquanto enchia a boca com dezenas de pastilhas pra garganta. Mas, atendendo a um pedido, aguentaria as dores de cabeça e esquecer-se-ia dos problemas que a deixaram pesada. Deveria ir até a amiga, uma das poucas a quem ainda mantinha a sensação do “sentir-se em casa”.
Esperou mais alguns minutos até que o motorista tomasse o volante.
Pouco antes de saírem da rodoviária, um senhor de uns setenta e poucos anos sobe às pressas. A garota faz sinal para levantar-se e ele sorri ao falar: - Não, minha jovem, fique quieta aí! Isso só faz eu me sentir mais velho do que já sou! Mas, tudo bem, irei sentar ao seu lado. Lhe farei companhia neste bonito passeio. 
E, sorrindo mais uma vez, o senhor da bengala e das feições simpáticas posiciona-se ao lado esquerdo daquela que, contra a vontade, ali estava.
Conversador, falou de sua vida. De como estava angustiado e ansioso para reencontrar a filha, e de como carregava consigo um pouco de receio também. Ela, em grande parte, apenas escutava, tentando ser gentil com aquele carismático senhor que, por breves instantes, lhe lembrava seu avô. Cheio de perguntas e de sabedorias da terceira idade. Gostaria de saber até onde ela iria, se visitaria o namorado e se alguém estaria à sua espera. – Mas como uma jovem tão bonita não tem namorado? – ele repetiu algumas vezes. – Tens que ter alguém a lhe esperar ali no ponto, certo? O sol está forte, irás se queimar!
- Obrigada, mas não se preocupe. Raramente me queimo. O mais provável é que eu passe da cor leite para o café! – Respondeu a garota, em tom alegre.
O senhor riu em resposta, e permaneceu alguns segundos em silêncio, até que virou-se novamente à ela e, desta vez em seriedade, deixou com que as palavras expelissem. – Qual o motivo da tristeza em seu olhar, menina?
Franzindo a testa, ela ofereceu uma das balas das quais estava a comer, e voltou-se ao seu silêncio enquanto aproximavam-se da parada.
- Bem, é isso, é aqui que me despeço. Foi um prazer conhecê-lo!
Ao virar-se para um adeus, o desconhecido senhor da bengala e das feições simpáticas pôs a mão em seu ombro e finalizou a fala de antes:
- Tem um coração muito bom, minha jovem. Não pelas balas, não me entendas errado, por favor! Tens muita luz aí. Deve ser por isso que não se queimas ao sol, já estás acostumada com ele dentro de ti. Não acredito que vá escutar um qualquer, mas lhe peço que não deixes ninguém mudar este coração.
Os olhos brilhavam e ela não conseguia exclamar mais nada. Apenas levantou o canto dos lábios e despediu-se.
- Mas as balas estavam muito saborosas! 
Ouviu ao pisar no acostamento e ter o amarelo invadindo seu rosto.
Nem tudo era motivo de mau humor, afinal. Sentia-se leve novamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário