sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um quadro a beira do caminho

Eu estava vindo pra casa, depois do trabalho. Uma quadra e meia antes de chegar em casa, resolvo olhar a minha esquerda, por sobre os campos que me salvam de prédios no caminho. E lá, tão longe quanto eu podia ver, vi o sol espalhado pelo céu, atrás dos morros baixos que ocupam meu oeste. E ele se dispersava em cores que eu não sei nomear, numa mistura gradual muito forte e suave. No lugar onde o azul começava a ganhar do laranja, estava a lua, nova, brilhando. E perto dela, uma grande estrela, ou planeta, algum astro que não sei qual era e sobre o qual não irei perguntar a internet. Fiquei um tempo parado, olhando para aquilo e pensando. Algum tempo depois, talvez dois minutos, percebi que alguém se aproximava, por trás. Vi que uma mulher desviou vigorasamente de mim, talvez preocupada com possíveis motivos que me fizessem estar lá parados. Ela passou por mim, cabisbaixa, desfez o desvio no seu trajeto e seguiu, sem notar o que me fez parar ali. E enquanto isso, eu pensava.
Pensava nos próprios pensamentos que tinha antes, nas dezenas de projetos e promessas, em todas as coisas nas quais terei que me empenhar para que aconteçam. Pensei, na verdade, em como passo tempo me preocupando com coisas que quero que aconteçam, assim como quase todo mundo, e que quase deixei passar um momento que muitos ignoram ou desconhecem. Percebi que eu mesmo desviava meu caminho de coisas belas que podem me fazer bem, coisas que estão ali, e estarão mesmo que eu não me importe.
Como aquela mulher, eu segui meu caminho. Andei até a esquina, com o olhar fixo no final do espetáculo. Então virei a direita e dei as costas àquela visão. Vim até em casa e escrevi isso. Pintei um quadro sem imagens de uma imagem sem igual. Mas não um quadro para emoldurar e colocar numa galeria. Uma foto pra guardar na carteira e, sempre que vê-la, lembrar de que estar muito ocupado também é estar errado.

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