domingo, 28 de maio de 2017

Do mingo


Enquanto engatava a segunda, para esperar sem pressa a abertura do sinal, senti um golpe sem força. Fui atingido por um pacote enviado do fundo do porão, me lembrando que eu pouco passava de um saco de ossos, remexendo pela estrada. Todo aquele brilho verde de repente inundou as ruas, calçada, fachadas, automóveis, a esperança de poder seguir sobrepondo-se à prisão que vigorava até então, dizendo: é seguro, vão. Dois para lá, dois para cá. Os segundos eram contados, e eu engatinhava sozinho pelo caminho até a zona onde residiria, perdido no próprio rastro que eu deixaria. Estava num local de onde é fácil sair, difícil entrar, incrível de se estar.
Sozinho, então.
Mas em trajetória de reencontro com outras órbitas que tantas vezes se aproximam e se afastam, nosso próprio sistema lunar.
De certa forma, recuperando a consciência de que só se perde cada coisa uma vez; e que algumas te tiram e tu nada pode fazer; e que tu pode conseguir outras coisas várias, algumas melhores, outras que substituirão aquilo que deixou de ter, mas nunca serão as mesmas.

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