Alice mal pisou na calçada e já escutou a vizinha gorda
gritar com o cachorro por ele ter comido o resto do bolo que estava no lixo.
Parando, um pouco assustada com o barulho, ouviu os vizinhos da frente num papo
profundo. Pareciam boas pessoas. Seu
Rivaldo, afirmava com veemência sobre o quão vagabunda era a Dona Gertrudes, que,
aparentemente, cuidava da própria vida ao invés de fofocar sobre os outros. Eduardo ouvia e sorria de volta, repensando sua amizade com a senhora.
Alice sentou no cordão. Mordeu um pedaço da bolacha que
trazia na mão, se sentindo cada vez mais minúscula aos assuntos do
bairro.
O simpático Senhor Rivaldo terminou o desabafo, acenou
para a gorda do cão e entrou em casa, segundos antes do carteiro chegar e
entregar a carta que Eduardo esperava. Era o empréstimo que havia pedido
novamente. Dessa vez daria certo.
Então, a rua se aquietou. Finalmente. Alguns pássaros cantaram, algumas crianças passaram de bicicleta e correndo. Era quase meio-dia
e o sol fazia festa.
Alice limpou as mãos na saia, levantou e tropeçou, dando de cara no
paralelepípedo. Ficou vermelha.
Sentindo que aquilo seria a
pauta do bom dia de amanhã, quis se enfiar em um buraco de tanta vergonha.
Não era um bairro de maravilhas, né.
ResponderExcluirBelo texto!
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