terça-feira, 15 de março de 2016

Saindo de casa

Alice mal pisou na calçada e já escutou a vizinha gorda gritar com o cachorro por ele ter comido o resto do bolo que estava no lixo. Parando, um pouco assustada com o barulho, ouviu os vizinhos da frente num papo profundo. Pareciam boas pessoas. Seu Rivaldo, afirmava com veemência sobre o quão vagabunda era a Dona Gertrudes, que, aparentemente, cuidava da própria vida ao invés de fofocar sobre os outros. Eduardo ouvia e sorria de volta, repensando sua amizade com a senhora.

Alice sentou no cordão. Mordeu um pedaço da bolacha que trazia na mão, se sentindo cada vez mais minúscula aos assuntos do bairro.

O simpático Senhor Rivaldo terminou o desabafo, acenou para a gorda do cão e entrou em casa, segundos antes do carteiro chegar e entregar a carta que Eduardo esperava. Era o empréstimo que havia pedido novamente. Dessa vez daria certo.

Então, a rua se aquietou. Finalmente. Alguns pássaros cantaram, algumas crianças passaram de bicicleta e correndo. Era quase meio-dia e o sol fazia festa.

Alice limpou as mãos na saia, levantou e tropeçou, dando de cara no paralelepípedo. Ficou vermelha.
Sentindo que aquilo seria a pauta do bom dia de amanhã, quis se enfiar em um buraco de tanta vergonha. 

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