domingo, 10 de janeiro de 2016

Eu lembro

Eu fiquei sentado pensando. Me desculpa eu não queria fazer isso, disse. Não consigo controlar os sonhos ainda.
Eu lembro de quando ia até seu encontro, nenhuma sensação lá e de volta, era sequer parecida com a transbordante e adorável fase momentânea, e nem entro na questão de ser real ou não. Eu já não sei mais.
Mas eu te via. Eu ficava sempre a procura. Eu procurava nas nuvens, no sonho lúcido, nas matas cortadas pelos caminhos que eu percorria a fim de me perder, ora, até mesmo nos banhados. Andando de ônibus e de carro. Ou até parado, sentado.
Quando me esforçava o suficiente conseguia te ver pelo canto do olho, como uma brisa colorida. Na visão periférica. Mesmo estando acordado.
Até que em algum ponto entre o sonho e o despertar, te senti próxima a mim.
Mas nunca pude segurar tua mão. Nunca pude te segurar nos braços.
Acho que foi quando escolhi inconscientemente parar de te procurar. Talvez porque eu andava distraído demais. As memórias mais uma vez endureciam com a frieza do tempo me deixando sem muitas opções. Sem muitos recursos.
Eu te olhava e perguntava se você estava bem, como que se sentia. Você parecia estranha.
"Estou maravilhosa. Somos maravilhosos!"Uma fala suave e doce. A pureza direto da fonte.
Um dia algumas lembranças começaram a se derreter, resvalei no gelo e me vi com você nos braços, mas tive um certo medo. Finalmente pude te tocar. Percebi que havia algo errado. Obviamente se tratava de um sonho e nada mais, e pela primeira vez pude te ver de perto com todos os detalhes inimagináveis, inacreditáveis, até mesmo para mim.
O pior aconteceu.
O tamanho da tragédia somente se igualou à tamanha injustiça que, naquele exato instante, percebi que havia cometido contra você. Contra você, contra outras pessoas.
Você se foi. Mais veloz que um pedido de desculpas simplório. O máximo que conseguia pensar no momento.
Me vi na companhia de mais uma pessoa apenas, com uma sensação esquisita, um caloroso desconforto, e o suor me escorria na face enquanto corria de volta pelos corredores mentais da memória, na esperança de te encontrar.
Em uma de minhas pressas, noto uma silhueta familiar.
Era apenas a Júlia, com o cigarro entre os dedos, rindo do meu esforço. Eu não a culpo, ela ainda foi legal comigo me oferecendo um cigarro. Não obrigado, eu não fumo.

E eu ainda estou correndo. Estou ficando cansado, confesso.
Como eu disse antes, eu não queria fazer isso.
Eu não queria trocar.

Mas descobri que não sou bom em entender a diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho. A diferença entre entender a escolha  e escolher entendimento.

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