quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Embalagens


Comia um iogurte super-sem-gordura enquanto comentava com a amiga sobre como aquele mingo da outra turma era inseguro. Um piá bobo.
Ouvia a velha enrugada falando por trás do vidro e das camadas científicas removedoras de idade sobre o caos na saúde, as crises e os mercados, com ênfase especial na falta de segurança no estado. Um horror.
Saía do automóvel após desafivelar o cinto, pisava na calçada, olhava para o lado e atravessava na faixa, sendo atropelado de qualquer forma. Faixa e trânsito nada seguros.
Tu precisas de alguém que te dê segurança, senão tu danças, dizia aquele outro, com outras palavras, encabulando seu futuro eu pela gramática tortuosa eternizada pelas próximas décadas.
Quem melhor para cumprir esse papel do que alguém que não existe fora dele, que personagem melhor para disfarce do medo do que uma fantasia de palhaço, velho cósmico universal, MACACO ASTRAL, com sua enorme mão capaz de tomar e tapar todo o céu, mas não de calar tua boca antes que tu bostejasse culpando por tudo a todas as terceiras pessoas como te convém, uma mão gentilmente evitando a fala, a outra levando o indicador aos lábios, sssh, e então apontando um confortável assento, senta lá e deixa o pessoal em paz, não isso ele não faz, ora, o filho segue o exemplo do pai; herda, sob duras taxas, os seus bens, alguma virtude, seus graves defeitos; sim, o homem cria seu deus à sua imagem e semelhança, e esta criatura passa a agir conforme seu idealizador, cometendo as mesmas falhas, mesquinhando tanto ou mais; por que, então, faria a ti um bem que nem tu mesmo te faz, em especial, sugeriria, desentupir os ouvidos, lavar em um jato de água quente a imbecilidade da qual te recheaste.

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