terça-feira, 7 de abril de 2015

No início era eu, o Dimes e o Pata, ou Pedro, ou Paulo. Paulo Portela. Não tinha um nome específico. Acho que Pata era o mais chamado.
Homem, aqueles eram os tempos! A comida era frequente e o conforto bastante. Bastava.
Perseguíamos aquelas grandes máquinas barulhentas. Dimes dizia que era o início do fim da tranquilidade. Hoje, imagino que ele esteja certo. Mas sei que tranquilidade nunca me encheu a barriga. Conforto também não.
Uma vez pegamos umas fêmeas, que dia de sorte. Uma pra cada um. Tivemos que brigar com o sabujo da rua de baixo porque o Pata era muito possessivo. No fim ele ficou nosso amigo, o Dente Massado, porque faltava dois dentes.
Sobre garotas ele tinha sábios conselhos, até mesmo o Pata começava a ficar esperto. Morrer nas ruas não é coisa que dá certo. Sei porque o Dimes muito se lamentava a morte da sua mãe. Ouvi dizer que todas as costelas foram quebradas.
Hoje eu estou velho e os tempos são outros. Outra rua. O conforto quase basta, e a comida enlatada, arroz, galinha, mandiocada. Claro, sempre sobras. Dos outros habitantes que, numa ação robótica quase, depositavam do outro lado da estrada.
Pata morreu semana passada. Fiquei triste. mas não gritei de noite. O Dimes ainda está por aí, umas duas ruas pro lado, coitado. Já levou até pedrada.
Hoje, há outros no nosso lugar, aprontando. Se aventurando. Até que o corpo diz que chegue.

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