sexta-feira, 3 de março de 2023

Give me the wine you keep the bread

Não me parece muito surpresa que o sangue se assemelhe a determinadas bandeiras, símbolos e tudo o mais. O coração como um propulsor dele e um símbolo para as mais criativas bobagens que se possa imaginar. O amor, o romance, a emoção. Caldo mental e ideário para uma grande quantidade de material cultural para o bem ou para o mal.
Para alguns a bandeira nunca deve ser vermelha.
Com bastante frequência percebo como é fácil o estalar da língua, o movimento de uma boca cheia de dentes, esse movimento mecânico, se fazer arauto de frases chavões, eventualmente cheias de preconceito e mesquinhez, sem qualquer reflexão íntima acerca do que nos cerca. Íntima, sincera...
Se mão ferramenta não dá carinho, que dirá a boca ferramenta. Manipulada por vontades aquém.
Contra a vontade, esmagada entre as engrenagens apodrecidas de uma coisa grande. Não sei falar de outra forma, uma coisa grande. Digna de um terror cósmico.

Aí vem a igreja, o padre e uma porção de lixo. Pretenso semblante de liderança. Dizer o que é e o que não. O que se deve ou não. Pegar uma figura incerta, perdida nos anais da história, fazer uma confusão como quem usa uma máquina de fumaça, usá-lo como símbolo de alguma pureza doentia, pendurado em um pau, sangrando e perto da morte. Sangue esse representado com o vinho.
Até o padre bebe o vinho. O sangue de cristo. O cara que sempre me pareceu legal mas o fã clube me ataca desde a catequese. Catequista. Só de me lembrar, já dá um asco. Um bando de velhas azedas, repetindo o som dos grilhões que carregam consigo. Nunca me convenceram. Tentaram me reduzir à meretriz pecadora, indigna da benção de deus, aquele outro canalha, machista, sádico e enlouquecido. Afinal a mulher de nada vale, competindo com deus no milagre da criação. Onde já se viu? Ousadia, rebeldia, criticidade. Nada disso vale, pois faz com que acabe com o conto muito bem estruturado pra arrastar a humanidade a uma existência de miséria.
Ironicamente na época do catecismo eu comecei a menstruar. O tabu social. Até hoje mal falado.
Comecei a sangrar tal qual jesus, porém pelos motivos errados, segundo o ensinamento.
Sentia vir direto do ventre uma intuição infalível. Foi o que me norteou a adolescência até uma relação conflituosa com tudo ao meu redor.
Quando aprendi um pouco sobre de onde vem deus e a igreja, tudo meio que começou a fazer sentido.
A europa. Nome até bonito, elegante. Nome de uma lua que deve ser linda, se um dia fosse possível eu descobrir. Um continente que reflete exatamente todos os problemas da dita religião. Os reflete para o resto do mundo, uma grande mancha de lixo, um esgoto a céu aberto, uma putrefação entranhada em ideais miseráveis, racistas, criminosos, saqueadores, golpistas. Tudo isso com uma maquiagem da melhor qualidade, pra fazer parecer um reduto civilizatório, de boas práticas e exemplos de conduta.
Uma riqueza sim. Riqueza extraída de outros povos, através da violência e da guerra. Através de colonizações destrutivas, opressoras. Se a mentira que deus fez o homem a sua imagem e semelhança fosse verdade, eu poderia dedicar a eles um elogio: seriam, além de tudo isso, honestos. Dentro da visão desse deus aí. De mãos dadas. Provando o fato histórico de ser o berço do fascismo.
Bela contribuição! Que grande benevolência!
Mas sou obrigada a dizer que os povos assassinados por essa conduta, tendem a discordar.
Esse deus está morto.

Eu gosto de uma boa taça de vinho e um cigarro na outra mão. O que mais posso querer?
Entre uma tragada e outra do cigarro, quase corto o filtro. Os dentes cerrados de angústia, de nervoso e de raiva.
O pão eu não quero, fique com ele. O corpo não me interessa, apenas o sangue. Em reflexo à paisagem urbana, que suga toda a energia de quem a sustenta. Os mais pobres. Os que vem de baixo. E os que nunca vão conseguir seguir dicas de empreendedorismo de palco e histerias sobre fábulas incríveis de meritocracia e esforço próprio. Não. Sua própria carne mostra a mentira escancarada. Seus corpos mostram.
Portanto o pão eu não quero.

O sangue desce e a chuva se torna vermelha.

Me entristece saber-me ciente de misérias profundas e incontáveis, escancaradas por onde ando, em calçadas, em notícias e camas de hospital. Creio que se contasse as estrelas do céu, seriam poucas em comparação.
Que tipo de mulher enlouquecida e vazia me tornei ao longo do tempo?
O jornal do almoço mais uma vez serve o prato principal. Ao molho de palavras chave. Seriam notas frutadas, mas nesse caso são 'notas de posicionamento', pedidos de não-desculpas, culpando as vítimas por sua situação desumana causada pelas ações sanguessugas de gente merda. Se o prato principal é a escravidão mais uma vez, o que será da sobremesa?
Povo amortecido e castigado por uma existência insana infelizmente não é tão difícil de agradar.

Há um limite em algum lugar em algum tipo de horizonte.
As mentiras começam a saturar.
O mar das finanças está podre há tempos.
Deus está morto e fedendo.
A jangada de pedra que navega nesse esgoto já não mais suporta tanto tempo vagando.
Será que ela tem data de vencimento?
A dor do chicote que estala é sempre disfarçada de alguma bobajada sobre mercado, política ou individualismo.
Uma constatação ainda salva, como um grito ensurdecedor a quem quer que seja que não consiga por uma razão ou outra enxergar nada: Olha pra isso e me diz que funciona! Está lançado o desafio!
E então, separemos aqueles que já morreram por completo, por dentro e por fora.
Não dá mais.

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