segunda-feira, 9 de março de 2015

Macaco Astral

Na extensão de seu braço vibravam notas de rancor, flores roxas que não eram de amor, vitupérios querendo vir à luz. Queria falar e dizer o que pensa. Macaco Astral tem opinião, ara veja só, que improvável, que insuportável ver aqueles braços peludos, não há problemas nas pelugens, e sim no que eles fazem, aqueles braços que descem e sobem sem ordem nem ponderação, suas garras dilacerando tímpanos, martelos e marretas batendo na madrugada, marcando o passar do sono que não vem, lá vão aquelas mãos sem oposição, sem polegares, exprimindo uma revolta com tantos alvos indefinidos, atirador franco, sincero, tal qual aquela vadia da página azul, tudo muito verdadeiro, o Macaco Astral se expõe e se defende, dispara e nunca recua, trepida, tripudia e trepa na sua máquina de escrever, e troca o papel, e trocar de papel nem pensar, segue o curso, pragueja curses, que macaco canalha, biltre astral, não nega a que veio, não é apicultor, não filosofa, não para pra pensar nem compra ações, não analisa o mercado, não especializa, tem conta e banco, mas não tem talão, nem cartão, deita no banco quando tem de descansar, descansa enquanto conta quanto tempo terá para martelar na próxima noite adentro, rasgos trovoantes num papel sem cor, sem cansar, ele tem opinião e tratará de manifestar, o Macaco Astral não cala, não.

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