sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Barro vermelho

Eu vivo nas ruas de uma cidade pequena no interior. Como o que tem, e vivo o quanto der. E se der. Normalmente só vivo até morrer.
Faz tempo que minhas andanças deixam irritados os moradores do bairro mutirão, um lugar onde vermelho é o chão, e os proprietários... Bá! Tudo ancião.
Não sinto falta de banho. Sinto falta do conforto.
Passo por aí e se tiver comida dê-me aqui. Próximo passo: Partir.
Semana passada quase fui atropelado, na Av. Terra Preta, esquina com o mercado do Rocha. Pra eles não importa se vivo ou se morro. Só importa mesmo quando não se pode fazer nada, porque daí é fácil.
Foi o que pensei quando nasci.
O dia em que nasci foi o primeiro dia que vi minha mãe sorrir, logo depois de ser morta a chutes, pelo pessoal popular. Eu não ri.
Já meu pai, não sorriu nem quando matou. Só matou. Matou um gato uma vez.
Eu também não gosto de gatos, gosto de ossos, restos de comida... As vezes como lixo também. Lixo é bom. Quando não tem aquela coceira atrás da orelha, que preciso coçar com o pé porque minhas mãos estão ocupadas com a comida.
Embora eu more nas ruas ninguém me cumprimenta, só me acham engraçado. Às vezes simpático. Não sei como sou. uma vez me vi no espelho e fiquei muito brabo comigo mesmo. Gritei.

Prazer, meu nome é Dimes. Dimes das ruas.

3 comentários: