sábado, 3 de janeiro de 2009

Fruto do Concreto

'Eu vejo um velho, dormindo na calçada
numa poça de mijo, com a calça arriada
tomando pinga pela noite inteira
gastou tudo que trazia na carteira
hoje de tarde, esse velho se levanta
com um gosto de vinagre na garganta
ele ergue as calças e sacode o pó,
vai para a praça ver se o povo ainda tem dó
não trabalha porque não sabe mentir
enche a cara por não ter como fugir

debruçado no balcão, toda noite ele se engana
seu foguete é um copo, o combustível é de cana
voa pra bem longe, aterrissa na calçada
volta de viagem com a vista embaraçada,

mas sua liberdade amanhã vai ter um fim
dois homens vão levá-lo, dirão “foi melhor assim
ele não dava lucro, emporcalhava a cidade
não contribuía com a nossa sociedade”.

o velho ganhou corte de cabelo e massagem,
um pedaço de terra e uma última viagem,
agora entre os seus restos enterrados
até os vermes tão ficando embriagados'

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