segunda-feira, 12 de março de 2018

A comunidade não aguenta tanto tempo sem água

Adão manejava a máquina enquanto Pedro estava sinalizando o pessoal das pistas. Foi assim que aconteceu o acidente pelo que ouvi dizer. Mais um atendimento e menos uma pessoa no mundo. Meu trabalho não era saber, mas eu fazia por curiosidade.
Mais sangue nas minhas mãos, mas atendia com prazer. Porque quando precisei de asfalto, ele estava lá, graças a esses caras.
A ralé da sociedade, como alguns diziam.
Acontece que se a periferia não descer pra cidade, nada funcionaria. São eles que fazem as coisas mais importantes, que não queremos fazer, por um valor que jamais faríamos. Nós, as bundinhas brancas da cidade, os dentes escovados e as unhas pintadas. Caro esmalte. Cara política de segurança pública, que nos faz tratar gente que nem lixo.
Mundo das aparências, aparente semelhança, com os muros e as cercas. Muita coisa pra engolir.
Mas pra eles as coisas sempre foram piores.
Me disfarço de ouvido mas não sou boa ouvinte.
Me faço de bem educada mais como ato de rebeldia.
Rebeldia é ser generosa, é ser bondosa. Rebeldia é tentar tratar alguém como ser humano. A verdadeira corrupção.
Porque a ladainha também já estava no meu sangue.

E ainda ouço gente dizendo que as coisas vão se sacudir se a periferia resolve vir para o centro.
Nem cigarro eu iria conseguir, se ela não viesse diariamente.

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