terça-feira, 30 de setembro de 2014

Revestido de Xadrez


Dormia noites em claro num travesseiro de duras penas. Escolhia meias, escolhia um prato; para votar, um candidato; para escrever, nenhuma ideia. A duras penas desligava o cabo de força, quando a fraqueza tomava conta do corpo. Olhava os poetas, suas auras de mistério, envoltos em mantos que somente o tempo sabe tecer. Fechava os olhos e eles cantavam. Abria os olhos, eles sumiam até serem encontrados, por acaso, outra vez.
Cada dia era uma partida.
Contra si, dizia que não importava concordar, importava mesmo era a reflexão. Retratos, pedregulhos, uma colcha, um vestido. Não fez a cama, não fez um plano, não fez o tema, não fez amor, não fez faculdade, não fez de salame, não fez careta, não fez nem nada.
Nunca mais vi Jairo. A culpa dele e disso é minha, percebo sua ausência por pouco. Ele de repente vem me visitar e todas mágoas jamais existiram. Acolho-o, feliz por seu retorno e deixo-nos estar por um momento. Em breve ele volta para o seu canto. Poeta que é, cantará atrás das grades e um dia me darei conta novamente de que há tempos não o vejo.
Cada dia na vida é uma partida.
Bom mesmo é ter um segundo controle.

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