quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Margem

Marta vivia a beira de um rio, em uma grande fazenda. Um rio belo, com a largura de duas árvores altas.
Ela não vivia sozinha, havia também muitas outras como ela. Porém, em grande parte, eram um bando de desmioladas. Ao contrário delas, Marta tinha muita consciência do que acontecia a sua volta, dos deveres e das responsabilidades de cada uma.
Sabia como as coisas que lhe diziam respeito funcionavam e tinha muita certeza sobre todas elas, sobre como o rio flui para a sua esquerda, como as outras plantas deviam se alimentar, em qual horário se tomava o melhor sol - não que fosse fazer alguma diferença, pois não poderiam se mover para evitá-lo; Era muito firme em suas opiniões e debatia vigorosamente contra quem delas discordasse.
Discutia, principalmente, com as plantas da outra margem, que insistiam em afirmar que o rio corria para a direita. Obviamente, qualquer dos lados jamais cedeu a razão, pois a prova do que diziam estava bem ali, diante de seus olhos.
Ocorre que esta fazenda era possuída por um fazendeiro. E este fazendeiro decidiu fazer um belo banco de madeira, para sentar-se confortavelmente e observar o rio, meditar a beira dele. No lugar que lhe pareceu perfeito, havia apenas uma planta que seria necessário remover. Assim, estaria cercado de belas folhagens floridas, bastando se livrar daquele arbusto resmunguento chamado Marta.
Quando o homem colocou suas mãos nela, Marta achou estranho e logo ficou assutada: o que ele pretendia? Quando ele começou a puxá-la, tirando-a calmamente da terra, ela gritou a ele para que parasse. Seu pedido foi ignorado.
O fazendeiro atravessou o rio com ela nas mãos e a deitou próxima da outra margem - no lugar onde viviam aquelas que por tanto tempo foram suas opositoras. Desesperada, Marta viu o homem cavar um buraco e, esquecendo-se de quem era, achou que aquele lhe seria um túmulo.
Gritou e chorou mas, para sua surpresa, o fazendeiro a colocou de volta na terra, ajeitando suas raízes e lhe dando alguma água logo depois, quando a cobriu novamente com terra.
Um pouco mais calma, olhou para aquele homem sorrindo pra ela, que se voltou e andou na direção de casa.
E, com lágrimas nos olhos, ergueu a cabeça e observou o rio; e ele corria para a sua direita.

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