domingo, 22 de fevereiro de 2009

Aqui

A água corrente, passa por mim, molhando aos poucos. Da mesma forma que faz há muito tempo, mais ou menos como fez desde que cheguei aqui. Neste momento, o sol bate apenas do outro lado, na margem mais pedregosa, onde as pessoas não costumam sentar.

Sinto-me estática, vendo os jovens brincando no rio. Gritos e saltos preenchem o momento. Duas senhoras observam, enquanto um rapaz salta de uma rocha mais alta, para perto de seus amigos. Lembro-me de estar aqui, quando eram elas que pulavam das pedras, alegres e infantis. Enquanto isso, eu observava. Agora elas também observam. Mas logo irão embora. Eu ficarei aqui mais um tempo.

Uma menina sai da água, em direção as senhoras, aparentando cansaço. Pega uma toalha, do lado da mãe, e seca os cabelos. Um pouco depois, outra menina e os três garotos, que se banhavam no rio, também saem em direção ao porto que os aguarda, com braços abertos e chapéu de sol. Eu ficarei aqui mais um tempo.

As mulheres adultas ficam de pé. São belas, não são jovens. Recolhem chinelos e roupas que ficaram espalhados, preparando-se para voltar ao aconchego das pedras polidas. As duas senhoras dão-se as mãos, e vão andando na frente. Logo são ultrapassadas pelas crianças, e sua pressa de ir, não embora, mas de ir a qualquer lugar.

Eu ficarei aqui, mais um tempo. Talvez fique mais uns seis ou oito séculos, até minha hora de deixar este mundo – ou de realmente me tornar parte dele. Talvez eu vá embora antes, quando alguém perceber que este não é meu lugar, quando encontrarem a lembrança que seus antecessores deixaram. Quando perceberem que não adianta reclamar de quem me pôs aqui, quando lembrarem de me dar a mão e me levar embora. Quando lamentarem terem sido tão estúpidos.

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